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INTÉRPRETE EDUCACIONAL: TEORIA VERSUS PRÁTICA

Compartilhe essa notícia! | Data : segunda-feira, agosto 08, 2011 | Series :

Resumo

O interprete de língua de sinais é um profissional presente em vários locais da sociedade devido à lei da acessibilidade. A escola é o ambiente onde mais vemos este profissional, mas infelizmente ele ainda não é reconhecido e pouco se sabe sobre ele e assim a confusão de papéis é frequente. Ser interprete educacional vai além do ato interpretativo entre línguas. Este artigo irá analisar, questionar, discutir e comparar a teoria e a prática do interprete educacional que não é um professor, mas faz parte da educação dos surdos sendo assim é um profissional que está construindo sua identidade. Parece estranho abordar teoria versus prática uma vez que deveriam andar juntas infelizmente para esse profissional da educação especial andam em sentido contrário. Vários fatores, tais como a falta de reconhecimento e regulamentação da profissão para sua efetivação como educador de surdos. Vários conflitos fazem parte da vida acadêmica dos surdos e que sempre acaba por refletir na sua formação, a questão profissional dos interpretes é um deles.


Palavras-chave: Interprete Educacional. Educação de surdos. Profissão. Atuação.



Itamar Lopes dos Santos
Jocimara Paiva Grillo
Perpétua Aparecida A. Dutra



INTRODUÇÃO

Ao longo dos anos trabalhando como intérpretes de Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) e inseridos nos movimentos da comunidade surda, notamos que em meio a esta dinâmica que o papel do tradutor/intérprete possui grande valor, pois ele é o elo entre as culturas dos ouvintes e a dos surdos.

Percebemos também a escassez de profissionais capacitados, as dificuldades enfrentadas por eles e o despreparo das escolas. Sendo assim, foi necessário burcar mais informações a respeito do tradutor/intérprete, e para nossa surpresa encontramos pouquíssimas literaturas que tratassem deste profissional, porém, encontramos três textos de grande relevância. O primeiro é o texto do Decreto 5626 de dezembro de 2005 que regulamenta a Lei 10436 de 24 de abril de 2002 que reconhece a LIBRAS como meio legal de comunicação e expressão utilizada pela pessoa surda e que assegura a presença deste profissional em vários locais, inclusive nas escolas. O segundo foi elaborado pela doutora Ronice Müller de Quadros, “O tradutor e intérprete de língua brasileira de sinais e língua portuguesa” no qual destacamos o item que trata do interprete educacional, documento este que foi organizado pelo MEC para orientar as escolas e os profissionais da área. O terceiro é um artigo organizado pela doutora Cristina Broglia Feitosa de Lacerda, “A Escola Inclusiva Para Surdos: A Situação Singular do Intérprete de Língua de Sinais” que traz uma discussão sobre o intérprete educacional e sua atuação.
Para melhor apresentar a discussão os assuntos foram distribuídos por tópicos onde serão discutidos desde a definição até a atuação dos tradutores/interpretes de LIBRAS (TILS).

O TRADUTOR/INTERPRETE DE LIBRAS - TILS

Para iniciarmos a discussão usaremos a definição de Quadros (2004:07) que diz que o TILS “é uma pessoa que interpreta de uma dada língua de sinais para outra língua, ou desta outra língua para uma determinada língua de sinais”.

No Brasil este trabalho iniciou com atividades voluntárias por volta da década de 80 e foram sendo valorizadas ao longo dos anos. O advento da inclusão dos surdos fez este profissional aparecer em vários lugares, consultas médicas, palestras, assistência social, televisão, ações judiciárias, escolas e universidades, entre várias outras. O tradutor/interprete educacional vem conquistando seu espaço desde o reconhecimento da Libras através da lei 10.436 de 24 de abril de 2002 e regulamentada pelo decreto 5626 de 22 de dezembro de 2005.

Quadros (2004:59) define que “o interprete educacional é aquele que atua como profissional interprete de língua de sinais na educação”.

Lacerda (2004:01) não o define, mas salienta que:

“O intérprete de língua de sinais é uma figura pouco conhecida no âmbito acadêmico. Os estudos existentes no Brasil e no cenário mundial são escassos, tanto no que diz respeito ao intérprete de maneira ampla, quanto a pesquisas que remetam ao intérprete educacional especificamente.”

Analisando estes dados podemos entender que este profissional deve ter domínio das línguas envolvidas no processo de tradução/interpretação além de ter um bom relacionamento na comunidade surda, o que facilita sua atuação, porém ressaltamos que a formação pedagógica é extremamente relevante para o desempenho de sua função, uma vez que está atuando na educação deve ter os conhecimentos básicos de um bom professor e assim atuar seguindo em conjunto com a equipe pedagógica da escola em prol do sucesso cognitivo dos alunos surdos.

Segundo Albres e Vilhalva (2005:07) em Campo Grande, o intérprete educacional atua desde 1995, através de um projeto elaborado pela professora Shirley Vilhalva, que no ato era diretora da escola para surdos (CEADA). O início do atendimento deu-se primeiramente na rede estadual nas escolas Lúcia Martins Coelho e posteriormente no Adventor Divino de Almeida e em 1999 na rede municipal nas escolas Arlindo Lima e Bernardo Franco Baís.

Desde então o atendimento só tem aumentado, e o profissional que antes era apenas exigido a língua de sinais hoje precisa ter formação de nível superior com habilitação em licenciaturas e ter certificação de proficiência em LIBRAS (PROLIBRAS/MEC) ou ser aprovado em avaliações realizadas por órgãos específicos de atendimento aos surdos.

Além do domínio das línguas envolvidas no processo de tradução e interpretação, o profissional precisa ter qualificação específica para atuar como tal. Isso significa ter domínio dos processos, dos modelos, das estratégias e técnicas de tradução e interpretação. O profissional intérprete também deve ter formação específica na área de sua atuação (por exemplo, a área da educação). (Quadros, 2004:28)

Aqui encontramos os primeiros entraves deste profissional tão questionado no mundo acadêmico. Contratados como professores deveriam ter os mesmos direitos e deveres, mas não é isso que acontece na realidade. Fator este que nos leva a indagar o verdadeiro papel do interprete educacional e assim passarmos ao próximo tópico.
 
O PAPEL DO TILS EDUCACIONAL
 
Algumas pessoas acreditam que ser interprete educacional significa apenas traduzir o que os professores falam em sala de aula, que não planejam suas atuações e não preparam as aulas, mas não é isso que acontece.

Algumas vezes lhes é delegado o papel de professor dos alunos surdos, quando deveria ser visto apenas como instrumento de comunicação, ou seja, considera-se ser antiético exigir que o interprete tutore os alunos surdos em qualquer circunstância ou realize atividades que não façam parte de suas atribuições, conforme dito por Quadros (2004:28) que também destaca algumas atribuições ao interprete observando preceitos éticos:
a) confiabilidade (sigilo profissional);
b) imparcialidade (o intérprete deve ser neutro e não interferir com opiniões próprias);
c) discrição (o intérprete deve estabelecer limites no seu envolvimento durante a atuação);
d) distância profissional (o profissional intérprete e sua vida pessoal são separados);
e) fidelidade (a interpretação deve ser fiel, o intérprete não pode alterar a informação por querer ajudar ou ter opiniões a respeito de algum assunto, o objetivo da interpretação é passar o que realmente foi dito).

Mas como ficar alheio aos problemas cognitivos dos surdos em meio ao total despreparo do corpo docente quanto à elaboração das atividades e a metodologia de ensino adequada ao alunado surdo.

Lacerda (2004:03) destaca:

Em relação ao papel do intérprete em sala de aula, se verifica que ele assume uma série de funções (ensinar língua de sinais, atender a demandas pessoais do aluno, cuidados com aparelho auditivo, atuar frente ao comportamento do aluno, estabelecer uma posição adequada em sala de aula, atuar como EDUCADOR frente a dificuldades de aprendizagem do aluno) que o aproximam muito de um educador. [...] ele deva integrar a equipe educacional, todavia isso o distancia de seu papel tradicional de intérprete gerando polêmicas.

Fazendo uma analogia entre teoria e prática, acreditamos que ser TILS educacional vai além do ato de traduzir e interpretar, e sim estar em sintonia com o professor regente e suas metodologias, além de estar comprometido com o processo de ensino-aprendizagem do aluno surdo. Para isso ele necessita estar em constante busca de aprimoramentos teóricos e práticos para melhor interação em sala de aula no que resultará a melhoria da qualidade de seu trabalho.

O interprete deve ter bem claro a dicotomia entre uma interpretação meramente automática, ou seja, o professor fala e ele interpreta, de uma significativa onde o ensino-aprendizagem é levado em consideração e isso envolve muito mais a sua atuação em sala de aula e que o força a encarar vários desafios.

OS DESAFIOS DOS TILS EDUCACIONAIS

O primeiro e um dos maiores desafios que enfrentam é a aceitação da equipe escolar em ter um novo profissional em seu quadro docente. Muitas escolas apenas o aceitam pelo simples fato de cumprir a lei, para evitarem conflitos que acabam com a imagem da instituição. Assim delegam ao TILS o cargo de tutor dos alunos surdos, o que é um grande erro e o leva a outro desafio. A orientação correta quanto ao método de inclusão dos surdos na escola, as adaptações curriculares e principalmente o respeito à identidade cultural e lingüística dos alunos surdos.

O correto seria que todos os professores saíssem das universidades preparados para a inclusão, um dos pré-requisitos seria a língua de sinais, mas infelizmente a maioria dos educadores não tiveram acesso a tal formação e poucos tem interesse em buscar informações a respeito, preferem deixar tudo nas mãos dos TILS. Isso faz com que os interpretes se sobrecarreguem, pois precisam ir atrás de conhecimentos mais apurados para o atendimento adequado aos surdos. Dentro desta discussão destacamos a capacitação dos profissionais da educação, tanto professores e TILS precisam estar em constante busca de formação e informação a respeito da inclusão, não basta apenas receber o aluno é preciso saber educa-lo sem prejuízos. Infelizmente o apoio para que estas capacitações aconteçam é escasso sem contar que a falta de interesse dos profissionais também é fraca, quando se faz um convite poucos aceitam, constata-se uma real falta de interesse por parte deles.

O projeto pedagógico da escola deve ser adaptado aos alunos com deficiência em geral, no caso dos surdos é o atendimento especializado com o recurso humano do interprete e as adaptações adequadas ao currículo e as metodologias, tudo o que for possível ser transcrito em LIBRAS facilitará o aprendizado do aluno surdo, mas o que se faz relevante é o método avaliativo que necessita de revisões e principalmente de adaptações, a escrita é um exemplo disso, a transcrição para o português feita pelos surdos é diferente e assim deve ser respeitada e corrigida levando em consideração o contexto do aprendizado e não a escrita correta. Em alguns casos a prova pode e deve ser corrigida na presença do aluno e com apoio do interprete para que se faça oralmente.

Destacamos ainda outro grande desafio a inclusão dos alunos surdos, a falta de sinais específicos para os conteúdos, por exemplo, nas disciplinas de química, física e biologia enfrentamos os maiores problemas pela falta de conhecimento dos alunos eles não criam sinais para serem usados nas aulas e isso dificulta o aprendizado e faz com que os alunos tenham mais dificuldades nessas disciplinas. Neste caso se faz relevante a presença de um grupo de pesquisa em LIBRAS para desenvolver sinais específicos para o uso em sala de aula, mas a falta deste trabalho dificulta e atrasa o desenvolvimento intelectual dos surdos perante os alunos ouvintes. Assim os TILS devem ter métodos de adaptação para a explicação destes conteúdos o que muitas vezes acontece sem o apoio do professor regente e acaba deixando o aluno surdo um passo atrás da turma.
Muitos surdos chegam às escolas em grande defasagem cognitiva e acaba recaindo sobre o interprete o resgate desse atraso. A falta de conceitos e de contato com as informações nos períodos certos de sua aprendizagem faz com que os surdos pecam muitas informações, também podemos ressaltar que a falta de conhecimento e de domínio da LIBRAS são fatores relevantes para que isso aconteça. Alunos surdos filhos de pais ouvintes, não usuários da língua de sinais, sempre apresentam mais dificuldades devida à falta de estímulos na família, por outro lado os surdos filhos de pais surdos também têm dificuldade devido a falta de conhecimento da família, assim a educação dos surdos é como uma faca de dois gumes, que geralmente cairá sobre a escola a responsabilidade de educar seus filhos, mas se o trabalho não for feito em conjunto possivelmente nada será aproveitado.
O certo a se fazer é encarar a realidade e chamar as famílias para juntos resolver os problemas apresentados e para que não fique apenas com os interpretes a função de educar os alunos surdos que se tornam limitados devida à falta de apoio e de informação em casa.

Apesar de ser bem requisitado no meio acadêmico, o TILS ainda enfrenta um grande desafio quanto sua contratação, um profissional que não se enquadra nos concursos públicos e por isso seu papel se confunde muitas vezes com o de professor e assim são contratados, mas a luta pelo reconhecimento e valorização é presença real nos atos políticos através das entidades que os representam, mas a falta de conhecimento e formação adequada faz com que se protele a averbação da lei que reconhece o tradutor interprete de LIBRAS. Ate que isso seja efetivado continuamos na luta enfrentando e ate mesmo superando muitos desafios.

No caso especifico da educação o TILS deve ter consciência de sua atuação e lutar pela qualidade de trabalho, uma vez contratados como professores devem seguir as orientações a este quadro funcional, mas infelizmente o interprete é sobrecarregado de funções e pouco respeitado quanto ao seu direito de descanso. Um língua que exige de seu usuário esforço físico e mental é extremamente relevante um tempo de descanso. Também em casos em que o aluno não esteja na escola interprete não deve assumir outra função, como ajudante de coordenação ou secretaria, por exemplo, nestes casos ele deve aproveitar para descansar e até mesmo realizar pesquisas inerentes a sua atuação e aos conteúdos de sala de aula.

Para ilustrar destacamos algumas passagens do código de ética do interprete, no cunho educacional, e salientamos que o cumprimento das orientações do código de ética é relevante para um bom andamento do seu trabalho e para uma boa convivência, sem contar que a qualidade de vida também deve ser considerada e preservada nessas circunstancias, uma vez sobrecarregados os TILS acabam por desenvolver doenças musculares e até mesmo psicológicas.

Vamos analisar uma citação de Quadros (2004:61) referente à ética e a atuação dos intérpretes educacionais:

“Em qualquer sala de aula, o professor é a figura que tem autoridade absoluta.” Mas infelizmente a figura do interprete muitas vezes confunde os alunos, são dois “professores” a quem devem obedecer, deve-se deixar bem claro que o professor regente da disciplina é o responsável pela sala toda, inclusive os alunos surdos, e o intérprete é apenas um canal de comunicação que tem sua responsabilidade apenas com os alunos surdos. Os professores por falta de conhecimento delegam ao intérprete toda a responsabilidade desses alunos e é comum ouvirmos “seus alunos” quando na realidade os surdos são nossos alunos, do professor e do intérprete.
“Considerando as questões éticas, os intérpretes devem manter-se neutros e garantirem o direito dos alunos de manter as informações confidenciais.” Por passarem muito tempo com os alunos em sala de aula é comum que procurem o interprete como amigo para contar confidencias e até pedir conselhos, quando isso acontecer jamais ele deve contar a alguém o que se passou mesmo quando questionado, mas em casos onde a integridade moral e física de alguém esteja envolvida ele deve buscar orientação da equipe pedagógica da escola.
“Os intérpretes têm o direito de serem auxiliados pelo professor através da revisão e preparação das aulas que garantem a qualidade da sua atuação durante as aulas.” Quando o professor oportuniza o contato ao planejamento das aulas a atuação do interprete é facilitada com certeza, uma vez que ele terá a oportunidade de se preparar para a explicação do professor e também poderá interagir e até mesmo sugerir se as atividades são adequadas ou não para os surdos e juntos encontrarem uma solução para que os surdos sejam contemplados com o conteúdo. Quando o professor não antecipa o conteúdo ao interprete certamente ele terá mais dificuldade para realizar seu trabalho.
“As aulas devem prever intervalos que garantem ao intérprete descansar, pois isso garantirá uma melhor performance e evitará problemas de saúde para o intérprete.” Este pode se dizer que está sendo o maior problema para as escolas. Os professores em geral têm horas de planejamento que o permitem certo descanso, além de que ele troca de turma com mais frequência. Já os interpretes ficam em sala de aula durante os cinco tempos e isso acaba por sobrecarregá-los, mas também como pode o interprete ter um dia de descanso se os surdos precisam estar em sala, quem os atenderia nesta ausência. Sendo assim deve-se acordar com a direção algumas adaptações, como por exemplo, “não exigir” que os interpretes participem de reuniões aos sábados, ou até mesmos daquelas onde serão discutidos problemas específicos de sala de aula e que não envolvam diretamente os surdos. Também durante as aulas o professor deve dar um tempo para que o interprete descanse pelo menos dez minutos de uma aula para outra. Nas escolas municipais de Campo Grande já é realidade que o interprete cumpre seu planejamento livre de duas horas/aula, bem como duas horas/aula com o professor, cumpridos preferencialmente nas aulas de educação física e artes, ou conforme a possibilidade de ausentar-se em outras disciplinas, tudo depende se o professor vai ou não precisar do auxilio do tradutor. Tudo é caso de conversar, mas infelizmente ainda existe uma real cobrança de que os interpretes não precisam de planejamento e que o serviço é “leve e fácil” e não exige muito esforço físico e mental do profissional.
Para concluir esta analise citamos o ultimo item que de tão completo em informações dispensa maiores comentários, apenas afirmamos que não é isso que acontece em sala de aula, mas sim seu oposto:

Deve-se também considerar que o intérprete é apenas um dos elementos que garantirá a acessibilidade. Os alunos surdos participam das aulas visualmente e precisam de tempo para olhar para o intérprete, olhar para as anotações no quadro, olhar para os materiais que o professor estiver utilizando em aula. Também, deve ser resolvido como serão feitas as anotações referentes ao conteúdo, uma vez que o aluno surdo manterá sua atenção na aula e não disporá de tempo para realizá-las. Outro aspecto importante é a garantia da participação do aluno surdo no desenvolvimento da aula através de perguntas e respostas que exigem tempo dos colegas e professores para que a interação se dê. A questão da iluminação também deve sempre ser considerada, uma vez que sessões de vídeo e o uso de retro projetor podem ser recursos utilizados em sala de aula.

Para que a inclusão dos surdos seja real é preciso considerar todos os tópicos discutidos acima, um profissional completo seria aquele que saiba unir teoria e pratica, ou melhor, aquele que tem domínio da língua de sinais e saiba defendê-la teoricamente além de ter uma formação pedagógica adequada à sua atuação. Ser um interprete educacional exige muita disciplina e coragem para realizar uma tarefa árdua de preparação tanto dos alunos quanto da própria equipe da escola, envolver-se nas atividades da escola, estar em constante estudo e aprimoramento de técnicas de interpretação e acima de tudo respeitar as regras da escola e lutar para que seja respeitado em seus direitos.


CONSIDERAÇÕES FINAIS

Um profissional bastante contraditório, uma vez que ainda não se encaixa em nenhuma profissão já existente nos registros funcionais da educação. Sendo assim, como remunerar uma pessoa que não é reconhecida oficialmente pela legislação brasileira?
Atualmente no Mato Grosso do Sul existem várias escolas e universidades, públicas e privadas, com pelo menos um intérprete em seu quadro funcional. Nas escolas públicas ele é confundido como professor, por ser contratado como tal, nas particulares como funcionário administrativo da empresa, uma vez que também é registrado assim. Na verdade está mais próximo de professor do que administrativo. A diferença está em que não necessita de elaborar atividades para o aluno nem preencher diários de classe, mas precisa planejar suas ações juntamente com o professor de cada disciplina para melhor adequar a interpretação. Não basta apenas saber a língua de sinais e muito menos entrar em sala de aula despreparado contando apenas com o que o professor vai falar, para o aluno surdo isso é insuficiente. O intérprete deve sim assumir seu papel de educador em conjunto com a equipe pedagógica da escola. A avaliação é de responsabilidade do professor, mas o TILS precisa acompanhar a correção para que o aluno não seja prejudicado.

O domínio da língua de sinais é o requisito principal para ser um bom intérprete, sendo que para o intérprete educacional se faz relevante o conhecimento pedagógico para poder interagir com o professor. Uma vez formado como educador, proficiente no uso e interpretação da LIBRAS, o intérprete educacional pode ser contratado como professor que exerce a função de interprete educacional, tendo os mesmos direitos e deveres. O correto seria a regulamentação da profissão para que possam ser contratados conforme sua função, TILS educador de surdos, não o único responsável, mas um colaborador do professor regente da disciplina. Suas atribuições seriam as mesmas do professor com a exceção de não preencherem diários e elaborar provas ou atividades.

O primeiro passo para resolver o impasse profissional do interprete seria a reconhecimento da profissão, é relevante considerar que a profissão tradutor/interprete de línguas já existe seria apenas a inclusão da categoria TILS Educacional no registro de profissões tendo como base a legislação brasileira que regulamenta a LIBRAS, ou seja, o decreto 5626/2005. “A Câmara dos Deputados concluiu nesta quarta-feira (11) a votação do projeto de lei 4673/2004, de autoria da deputada Maria do Rosário (PT-RS), que reconhece a profissão de intérprete da língua brasileira de sinais (Libras).”(fonte:www.apilms.org). Uma grande conquista para os profissionais que há anos lutam pelo seu reconhecimento e consequente respeito. A primeira barreira foi vencida, agora está nas mãos dos senadores a aprovação deste projeto que facilitará a contratação dos interpretes no âmbito geral.

A sociedade ainda não está preparada para receber este novo profissional, que por muitos é visto com um artista que faz maravilhas com as mãos. A formação dos interpretes é relevante, sua constante capacitação é extremamente necessária. A sociedade precisa de mais informações sobre este novo profissional que faz parte da vida das crianças nas escolas. Veicular propagandas na televisão e internet orientando e explicando qual a importância e o papel do interprete em sala de aula. Fala-se muito sobre inclusão e acessibilidade, mas pouco dos profissionais que atuam para que aconteçam. Nas escolas também faltam mais orientações às escolas a respeito do atendimento e quais adaptações devem ser feitas. Para os alunos surdos ainda é enfrentado o problema lingüístico, a língua portuguesa ainda é um problema nas salas de aula, o professor deve seguir um parâmetro inadequado aos surdos, um caso a ser discutido pelas autoridades para diminuir as barreiras nas salas de aula.

Aos poucos vão conquistando seu espaço, mas ainda se tem muita barreira à frente para serem derrubadas e para isso muito esforço é necessário para se alcançar o sucesso as forças devem ser unidas. O respeito ao sujeito surdo faz do profissional que atua como interprete um vencedor, mas sua luta terá sucesso se saber unir forças com os surdos para construírem juntos o conhecimento necessário para sua atuação profissional.




6 REFERÊNCIAS

QUADROS, Ronice M. O tradutor e intérprete de língua brasileira de sinais e língua portuguesa. Secretaria de Educação Especial; Programa Nacional de Apoio à Educação de Surdos - Brasília: MEC; SEESP, 2004.
BRASIL. Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência. Acessibilidade, Brasília: Secretaria Especial dos Direitos Humanos, 2005.
ALBRES, Neiva de A. História da Língua Brasileira de Sinais em Campo Grande – MS. Campo Grande, 2004. Disponível em Acesso em: 20 de maio de 2009.
LACERDA, Cristina B. F. de. POLETTI, Juliana E. A ESCOLA INCLUSIVA PARA SURDOS: A SITUAÇÃO SINGULAR DO INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE SINAIS. FAPESP/ANPED, 2004. Disponível em: Aceso em: 20 de maio de 2009.
VILHALVA, Shirley. Histórico da LIBRAS de Mato Grosso do Sul. Campo Grande MS. Enviado por e-mail pela autora em 15 de julho de 2009 para da aluna Jocimara Paiva Grillo.
Artigo: Câmara reconhece profissão de intérprete da língua de sinais. Disponível em: acesso em: 15 de novembro de 2009.


Fonte do Artigo: http://www.effata.org.br/?s=formacao&ss=detalhes&id=8

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1 comentários:

Tulis comentários
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Unknown
Admin
28 de fevereiro de 2018 às 23:35

Esse artigo é pura verdade! Vivo o meu dia entre teoria e a prática da Libras na escola. Sou a unica em meu município com formação e há mais de dez anos com experiência na área;e mesmo assim encontro pessoas querendo me ensinar como interpretar ou alfabetizar o surdo. Acabamos fazendo mil coisas que não fazem parte da função de interprete. Tenho visto escolas colocando apoio no lugar do interprete de Libras, e o aluno surdo fica sem interprete e sem instrutor. É o jeitinho brasileiro!

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